O centenário de Tomie Ohtake será celebrado com um jantar para convidados, no Instituto que leva seu nome, em Pinheiros. E com a pré-estreia de mais uma exposição de trabalhos seus, a terceira sob a curadoria de Paulo Herkenhoff. Nesta, em que o crítico quer discutir Gesto e Razão Geométrica, estarão 60 trabalhos, a maioria pinturas, só para concluir que Tomie, apesar de ter aderido à geometria sensível da América Latina, em alguns trabalhos, “experimenta incessantemente a imprecisão”. Palavras dele, que contrapõe seu trabalho ao racionalismo da geometria ocidental, e explica sua contribuição por absorver valores orientais, como o enso, o circulo imperfeito do zen budismo, e a relação da forma com a sombra, tradicional na cultura japonesa. Na verdade, a arte de Tomie está acima de definições. Tanto que Herkenhoff está tentando explicá-la, em capítulos.
A gente pode falar horas sobre Tomie Ohtake. É uma personagem ímpar na arte brasileira, e na sociedade paulistana. Só agora, centenária, aceitou aparecer em público em cadeira de rodas. Isso é muito recente. Sempre teve uma vitalidade invejável. Mantém uma memória excelente, continua frequentando óperas e concertos, lembra das pessoas que vão cumprimentá-la, é agradável com todos. Uma majestade. Telmo Martino, quando colunista do Jornal da Tarde, a chamava de Imperatriz da Turma da Tempura e Mesura. E alimentava uma rixa entre Tomie e Mira Schendel. As duas, a japonesa e a suíça, tinham muito em comum. Mira também, muitas vezes, foi imprecisa em seu concretismo.
Tomie aceitou o Brasil como segunda pátria, há 77 anos. Criou os dois filhos, Ruy e Ricardo, como brasileiros, mas nunca aprendeu a falar português direito. Nem isso a impediu de ser o que é, e de ter a importância que tem no nosso meio cultural. Tanto que recebeu todas as grandes honrarias, paulistas e nacionais. Mas o melhor de Tomie é o exemplo: aos cem anos, continua trabalhando. Há obras suas datadas de 2013. O recado que dá, é que ninguém precisa parar, se tiver condições de seguir criando.
A mostra no Instituto Tomie Ohtake será aberta ao público amanhã, e fica em cartaz até fevereiro. Nunca é demais lembrar que a obra pública de Tomie pode ser vista na chegada ao Aeroporto de Guarulhos, na avenida 23 de Maio, no centro de Santo André, na Orla de Santos. E dentro de dois prédios de Oscar Niemeyer: o Auditório Ibirapuera e o Auditório Simon Bolivar, no Memorial da América Latina. Niemeyer achava que Tomie completava sua obra. Tinha razão. Tomie traz a surpresa.