A palavra “parceria” é hoje usada à exaustão, principalmente em termos de acordos profissionais e se ouve muito nas conversas, entrevistas e propostas. A ponto de se tornar sinônimo de pobreza vocabular. Mas, na verdade, poucos entendem realmente seu significado e em nome da carência e dos hábitos, valorizam muito mais o ter alguém ao lado sempre do que os momentos fortes do convívio.

A questão é que se confunde companhia com companheirismo, este sim, essencial para que um relacionamento a dois, uma ligação familiar ou mesmo uma amizade possa formar o encontro entre parceiros. Estabelecendo-se sobre uma troca emocional e criando o sentimento e não um simples acordo entre as partes.

A palavra companheirismo vem do latim “cum panis” e define aquele com quem dividimos o pão. Companheiro, portanto, não é quem está ao nosso lado – às vezes até uma péssima companhia – mas aquela pessoa em quem confiamos pra compartilhar, não porque goste das mesmas coisas que nós ou do mesmo tipo de pão, mas porque entende a nossa necessidade de dividi-lo naquela hora para dupla apreciação e vice-versa.

Numa resposta não apenas física de matar a fome, mas também de alimentar a alma. A sintonia da parceria se faz justamente no entendimento disso: o quanto somos necessários num determinado momento para que o outro se equilibre em suas ânsias; tanto nas desvalias quanto nos prazeres e complementações.

Companheirismo, enfim, é perceber o quanto alguém usufrui muito mais de algum “hobby” ou vontade, quando estamos ao lado. Isso, em se sabendo perceber e acrescentar, ainda que mantendo íntegra a unicidade e a individuação. O que torna linda uma relação e faz toda a diferença.

Há muitas pessoas que não sabem ser parceiras embora vivam juntas, assim como quem seja casado, pai e filho e não consiga exercer o companheirismo. Conheço filhos que não são companheiros dos pais em hora nenhuma e pais que desconhecem o prazer dos filhos em que eles os acompanhem. Maridos que desconhecem as atividades das mulheres que não sejam aquelas ligadas ao cotidiano comum e mulheres que mal sabem o que os maridos fazem profissionalmente.

É difícil viver assim, embora, muito comum, em nome desse egoísmo que hoje predomina e naquela teoria neoindividualista de que “só faço o que gosto e quero na hora que me apraz”. A parceria para ser parceria pede justamente o contrário, o que renova o amor, o afeto familiar, a admiração. O simbolismo de se alimentar com alguém é pressuposição de sintonia e de um olhar junto para o futuro. Não nos alimentamos apenas de comida, mas também de idéias, saberes e planos e ter um companheiro significa compartilhar esse conjunto de coisas: emoções, pensamentos, sonhos. Momentos de troca e plenitude.

Daí a melancolia dos sensíveis em perceber-se posto de lado, não participando. Ou viver o símbolo maior do solitário: a incompreensão. Como dizia o filósofo Nietzsche, “minha solidão não tem nada a ver com a presença ou a ausência das pessoas; detesto quem me rouba o encontro comigo sem em troca me oferecer o companheirismo”.

Foto: Alessandra Przirembel Angeli – I stop for photographs © – Vigelandsparken, Oslo, Noruega.